Astrologia é ciência?

Quem tem o hábito de ler e acompanhar o horóscopo já se pegou analisando minuciosamente as previsões de fim de ano para seu signo e apostou que o ano seguinte seria exatamente como leu. Quem nunca se preocupou quando ouviu a notícia sobre Mercúrio retrógrado?

Quem acredita na Astrologia confia honestamente na influência da posição dos astros no momento de seu nascimento. Por outro lado, existem aqueles que dizem que tudo isso é uma bobagem e que não existe relação de causa e efeito entre os movimentos astrais e o nosso comportamento.

O papel dos astros na nossa vida

Ilustração dos planetas do Sistema Solar vistos no espaço

Do grego (“astron” = “astros”, “estrelas”, “corpos celestes” + “logos” = “palavra”, “estudo”), a Astrologia é considerada uma pseudociência que defende que as posições relativas dos astros podem definir as características de nossa personalidade, as nossas interações com outras pessoas, facilitar previsões e outros temas relacionados com os corpos celestes no âmbito pessoal.

Assim, a depender da data e horário de nascimento, cada pessoa teria características básicas relativas ao seu signo e outros aspectos. Por exemplo, quem nasceu sob o signo de Áries tende a ser uma pessoa impulsiva, determinada e impaciente. Outros fatores, como signo lunar e ascendente, moldariam ainda mais a nossa personalidade.

Alguns cientistas dizem que, por não haver essa comprovação, entre outros aspectos, a Astrologia não é considerada uma ciência.

Mas o que é ciência, afinal?

De fato, ao procurarmos em várias fontes, a Astrologia é considerada uma pseudociência – aquilo que se diz ser baseado em fatos científicos e que reúne um alto grau de conhecimento, porém não é resultante de nenhuma aplicação de métodos científicos.

Então o que falta para que a Astrologia seja considerada ciência? Bem, para que algo seja considerado ciência, é preciso que haja uma teoria explicativa. A ciência explica os fenômenos com base em leis investigadas pelos rigores dos métodos experimentais. Como já dizia Aristóteles, a ciência “é o conhecimento demonstrativo”. E ela própria, a partir de vários métodos, já refutou a capacidade de predição atribuída à Astrologia e afirma que não há qualquer comprovação de que as análises e previsões astrológicas tenham fundamentação concreta – uma das premissas da ciência.

A ciência se divide em três componentes: observação, experimentação e leis. Não há espaço para suposições, só se aceita a comprovação após a aplicação do método científico. Para que uma ciência seja classificada como tal, é preciso que se obedeça aos seguintes critérios: ausência ou presença de ação humana no fato objeto da investigação, imutabilidade e mobilidade prática.

Classificação das ciências

O primeiro sistema de classificação das ciências foi proposto pelo filósofo grego Aristóteles (ciências produtivas, ciências práticas e ciências teóricas) e foi utilizado até o século XVII. Ao longo da História, os sistemas foram se desenhando com base em novos critérios. As principais classificações começaram a se basear nos seguintes parâmetros: o tipo de objeto estudado, o tipo de método empregado e o tipo de resultado obtido. A partir dessa subdivisão, temos atualmente a classificação seguinte:

  • Ciências matemáticas ou lógico-matemáticas: Aritmética, Lógica, Trigonometria, Álgebra.

  • Ciências naturais: Física, Astronomia, Geologia, Química, Biologia, entre outras.

  • Ciências humanas ou sociais: História, Sociologia, Psicologia, Linguística, Economia etc.

  • Ciências aplicadas: por exemplo, ciências da Arquitetura, Informática, Engenharia, Medicina.

Perspectiva dos cientistas

Professor cientista em frente a uma lousa

Para os cientistas, a Astrologia não pode ser racionalmente garantida. Mesmo que uma previsão se concretize, não há como assegurar se foi de fato um acerto ou mera coincidência.

Um exemplo básico para ilustrarmos o que é a ciência: sabemos que, se colocarmos a água a uma temperatura de 0 °C, ela se solidificará e formará gelo. Por outro lado, se levarmos ao fogo, a uma temperatura de 100 °C, a água entra em estado de ebulição. Mas não foi feita uma única experiência para se chegar a essas conclusões. Para ter certeza de que a água regularmente assume tais estados, foi preciso repetir essa experiência várias vezes. Da mesma forma, chegou-se ao resultado de que, com outras substâncias, os pontos de fusão e ebulição se dão sob outras temperaturas.

E como se chegou a tais resultados? Experimentos à exaustão, estudos científicos, cálculos, padrões, correções. Situações passíveis de testes, racionalmente válidas e justificáveis, com possibilidade de replicação. Partimos de uma premissa, que sempre carecerá de uma infinidade de testes.

Astronomia e Astrologia juntas?

Nem sempre a Astrologia foi colocada como algo refutável e alvo de críticas, em especial entre os cientistas. Em tempos antigos, a Astrologia era bastante útil aos reis nas tomadas de decisões e, de alguma forma, acabou servindo como um impulso para o estudo da Astronomia. Então podemos ao menos apontar a importância da Astrologia para a Astrofísica, por exemplo.

Por muitos anos, Astronomia e Astrologia andaram de mãos dadas. Ambas faziam parte inicialmente de um mesmo estudo, sobretudo durante o Renascimento. Era uma época em que Matemática, religião, ciência e magia se misturavam, assim como química e alquimia. Grandes nomes da ciência praticavam a Astrologia.

O astrônomo dinamarquês Tycho Brahe, por exemplo, era astrólogo do rei da Hungria. Seu assistente, Johannes Kelper (figura crucial na Revolução Científica, autor das três leis sobre os movimentos planetários e considerado o pai da Astrofísica) demonstrava suas habilidades astrológicas desenvolvendo horóscopos para os colegas de classe. Galileu Galilei (astrônomo, físico e matemático, também de grande relevo na Revolução Científica) ensinava Astrologia para seus alunos (em sua época, era um diferencial atrativo para os alunos).

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Nessa época, para ser um astrólogo renomado, era preciso ter grandes conhecimentos sobre os astros, ou seja, ser um exímio astrônomo. Talvez esse tenha sido um período em que a Astrologia possa ter ganhado alguns contornos de ciência. E não podemos nos esquecer de que foi graças a essa – hoje – pseudociência que foram impulsionados os estudos da Astronomia (considerada à época uma função da Astrologia).

A Astronomia e a Astrologia só começaram a se dissociar ao longo do século XVII, uma era conhecida como “A Idade da Razão”. Entre os séculos XVII e XVIII, a Astrologia passou a ser encarada como uma superstição oculta. A partir de então, passou a ser desacreditada e até mesmo ridicularizada.

Ciência ou não?

Conforme já expusemos, para a comunidade científica, a Astrologia não é considerada uma ciência, ainda que use o conhecimento científico sobre os corpos celestes para atuar. E essa afirmação se reforça graças às seguintes conclusões:

  • A Astrologia não é testável (ou seja, não pode ser verificada pela ciência). Os resultados de suas previsões são subjetivos e condicionados a interpretações.

  • A Astrologia não se baseia em evidências nem envolve a comunidade científica (os artigos elaborados por astrólogos não são analisados criticamente pela comunidade científica).

  • A Astrologia não conduz novas investigações.

No entanto, se formos considerar uma abordagem através dos tempos, a Astrologia Natural – que incluía a Astrologia Médica e a Meteorológica – era parte integrante da ciência em épocas antigas. A Natural era usada para prever as condições climáticas, com base na observação das disposições e interações entre os corpos celestes.

E, em uma abordagem mais ousada, considerando somente o aspecto do estudo comportamental e de personalidade, poderíamos avizinhar Astrologia e Psicologia (esta última, considerada ciência humana ou social). Então, nesse aspecto, poderíamos dizer que há uma correspondência entre Psicologia e Astrologia, evidenciando algum rastro de cientificidade nesta última. É claro que esta é uma comparação simplista, uma vez que há muito mais especificidades na Psicologia que a definem como uma ciência.

Embora, para os cientistas, a Astrologia não seja considerada uma ciência, a crítica deles precisa estar voltada para uma discussão estrita à metodologia, a fim de classificá-la ou não como tal. E não sobre se funciona em 100% das situações (nem mesmo a ciência se garante nisso, uma vez que, para ser ciência, é preciso um porquê bem fundamentado, ainda que um resultado rebata o anterior – ou nem sequer haja um resultado inicial).

Não devemos ignorar os estudos e cálculos envolvidos em algumas das ferramentas astrológicas (como, por exemplo, o mapa astral), muito menos negar que, coincidentemente ou não, há algum resultado.

Infelizmente, grande parte da desconfiança e descredibilização, nos dias de hoje, ainda se fortalece pela atuação de charlatães, maus profissionais ou pessoas desqualificadas para o trabalho astrológico.

Ainda há muito que se investigar, em especial com a mente aberta e sem o estigma que a Astrologia recebeu ao longo dos séculos, desde que houve a ruptura com Astronomia, ocorrida na transição para o Iluminismo. Fato é que, para quem acredita e confia nas previsões, conselhos e ferramentas astrológicas, a Astrologia não precisa ser reconhecida, pois seu alcance, para essas pessoas, vai além do olhar objetivo da ciência.

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