Como usar a compaixão num mundo de “justiça”

Esse texto serve para quebrar com um padrão de sentimento de fazer justiça no mundo. De acharmos que agredindo o outro teremos benefícios e o mundo então se tornará um lugar melhor. Esse é um pensamento equivocado, pois, da mesma forma que fogo gera fogo, rancor e raiva geram apenas mais rancor e raiva. Precisamos usar compaixão e amor para combater a raiva e o ódio que se propagam no mundo, da mesma forma que utilizamos a água para acabar com o fogo. Precisamos gerar benefícios para todos, inclusive nossos agressores.

Mas como gerar benefícios para quem me causa mal? Pense da seguinte forma: se alguém lhe faz algo negativo, você tem a capacidade de gerar positividade ou de aumentar aquela negatividade. Contudo, somos ensinados desde pequenos a nos defender. A responder na mesma moeda quem nos agride em palavras, atos e gestos. É comum agredirmos o alvo de nossa fúria exatamente por não compreendermos a compaixão. Paixão significa sofrimento e compaixão, “sofrer com”, compreender o sofrimento do outro.

A pessoa que faz o outro sofrer está sofrendo inevitavelmente. Isso porque só podemos compartilhar aquilo que está em nosso interior. Se a pessoa faz os outros sofrerem é porque o sofrimento dentro dela está transbordando e atingindo as outras pessoas. Essa pessoa precisa de ajuda.

Mesmo sabendo disso, fica difícil entendermos essa lógica. Temos sempre uma posição para defender, uma noção de justiça, de certo e errado. Isso cega nossa compaixão e pensamos sempre no sentido de fazer o que achamos ser justo.

Porém, temos liberdade. Se uma pessoa nos agride, temos a liberdade de retribuir a agressão ou de gerar uma nova realidade onde possamos pacificar quem nos agride e ainda gerar benefícios para essa pessoa. Essa lógica parece estranha numa sociedade que aprendeu a lidar com tudo pela lei de Talião (olho por olho, dente por dente).

Mas temos liberdade de gerarmos ações e situações positivas no mundo, assim como temos liberdade de gerar situações e ações nocivas ao outro. Podemos exercer essa liberdade e não sermos responsivos à raiva e ao ódio. Quando falo responsivo, refiro-me ao sentido de respondermos impulsivamente ao instinto de raiva àquele que nos agride. Não conseguimos exercer nossa liberdade e ficamos presos à resposta automática de fúria, mágoa e rancor.

Mas somos seres com a capacidade de gerar a compaixão. E isso deve ser praticado. Podemos praticar isso gerando perdão e amor para todas as direções. Perdoar quem lhe fez sofrer mostra a maturidade e a liberdade de gerar emoções positivas e de parar a continuidade da energia negativa. Você tem essa liberdade.

Veja que, se uma pessoa gera a negatividade e isso nos causa revolta, continuamos o ciclo de raiva e ódio. Não estancamos essa energia, mas sim a impulsionamos. O mundo não precisa de mais energia negativa, de mais justiceiros e de mais juízes. O mundo precisa de pacificadores, de pessoas que propaguem o amor e a paz, pois afinal só podemos construir as coisas na paz.

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