Origem do sofrimento: o gostar, o não gostar e a indiferença

Durante todo momento estamos buscando a felicidade. Todas as nossas ações, até mesmo as erradas, possuem esse objetivo. Estamos sempre atrás de algo que promova a nossa felicidade. Isso em si não é um problema. O real problema é como de fato buscamos essa felicidade, pois a grande maioria busca isso de forma condicionada. O que quero conversar com você nesse texto é sobre como, de maneira geral, nos movimentamos nesse mundo e como esse movimento produz o inevitável sofrimento. Quero falar sobre essa forma e oferecer outra maneira de se movimentar no mundo. Uma que te possibilite encontrar a felicidade que tanto busca.

O movimento se dá em geral através dos aspectos de gosto. Se gostamos de algo buscamos ter aquilo e tentamos ter essa sensação em nossa vida. Agora, se não gostamos geramos a energia de repulsa e queremos nos afastar daquilo. Assim nos movimentamos na vida buscando aquilo que gostamos e nos afastando daquilo que não gostamos. Dessa forma condicionamos nossa felicidade às situações externas sem perceber. Acreditamos que a felicidade surgirá quando alcançarmos tal condição e que aquilo será melhor para nós. Sem perceber a pessoa já está em sofrimento, pois na falta dessas condições favoráveis ela sofre. É como se esperássemos para sermos felizes. Buscamos encontrar a felicidade em um emprego melhor, em uma casa melhor, um melhor salário, etc.

Existe uma palavra no oriente para isso, chama-se Duka. Duka é o sofrimento inseparável da felicidade. Ou seja, se buscamos condições ideais para que a felicidade se manifeste, então já estamos em sofrimento sem perceber. Se as situações são favoráveis estamos bem, senão o sofrimento impera. Em outra situação, podemos ignorar as coisas do aqui e agora e nos ligarmos naquilo que queremos para nossa vida no futuro. Dessa forma condicionamos nossa felicidade no futuro e deixamos de viver no aqui e no agora.

Há ainda um terceiro modo que opera em conjunto com o gosto, a indiferença. Ela opera naquilo que nossa atenção não observa. É como um adolescente que sai de casa para ir a uma festa e os pais falam sobre aquilo que ele não percebe. Os pais dizem “coloque seu casaco, volte com alguém, não dirija bêbado, etc”. Os pais levantam situações que os adolescentes não observam. E isso acontece muitas e muitas vezes em nossa vida. Ignoramos muitas coisas e quando nos damos conta pensamos “nossa, não havia pensado que isso poderia acontecer”.

Essa indiferença faz com que ignoremos muitas situações e que não notemos que a felicidade está no momento presente que se desdobra perante nossos olhos. A busca por aquilo que deseja faz com que sua mente fique fixada e focada no seu desejo e, assim, não percebe que a felicidade está em viver o aqui e agora.

Porém, há um caminho que podemos trilhar. Nem tudo está perdido. Podemos atingir um estado de felicidade que independe das situações. Esse estado está ligado à compreensão de como nossa mente opera e de como funciona a realidade. Para darmos esse primeiro passo, antes nós temos que entender que nossa mente objetiva fica sempre achando maneiras para suprir aquilo que não temos. Isso faz com que nosso pensamento se fixe nas coisas que não possuímos, tendo a crença de que a felicidade está nessas coisas. Mas a verdadeira felicidade reside em nosso interior e para ouvi-la precisamos antes parar de escutar os pensamentos de desejo e ouvir nosso coração. Para isso precisamos praticar o poder de não se abalar pelas coisas e o melhor caminho para isso é a meditação.

Ao meditar irão surgir muitos desafios. Sua mente tentará manter o padrão de manter-se atenta ao caminho de buscar aquilo que gosta, mas você pode simplesmente manter-se parado. O desafio de se manter parado já é em si grande, pois nossa mente está sempre em constante movimento e estamos sempre acreditando que há outro momento sem ser o aqui e o agora. Porém, se queremos ser felizes, temos que aceitar a realidade de que o único momento para ser feliz é o agora.

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